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SCRIPTORIUM

É no "Scriptorium" que trabalham os monges copistas, imagem bem conhecida do imaginário medieval, debruçados sobre livros e pergaminhos, trabalhando incansavelmente para perpetuar as obras de que são responsáveis. Mas o conhecimento da escrita não se resume no trabalho de copiar, e o papel de um conhecedor das letras vai para além dos livros, com o registo escrito de actos comuns do quotidiano, desde um testamento a uma venda, documentos que ficaram para a história nos arquivos régios, conventos, etc.
Posteriormente estas tarefas passam a ser responsabilidade não exclusiva do clero, mas também de tabeliães públicos, que continuam a usar as mesmas ferramentas para um trabalho contínuo ao longo dos séculos. Um outro trabalho eterniza por meio da palavra escrita as histórias que são dignas de registo: o dos cronistas, que vão ter um papel de relevo para passar à posteridade o nome de figuras, quase ao estilo de romances de cavalaria, com os feitos que marcaram a história de um País.

Todos usaram um conjunto de ferramentas - penas, pergaminhos, tintas, entre outros - que estavam acessíveis ao seus utilizadores através da venda por artesãos especializados (no caso do fabrico do pergaminho), ou eram arranjadas e preparadas pelo próprio escriba (como as penas), e faziam parte do seu dia a dia. Desde o suporte da escrita até à encadernação final de um códice, existe uma grande variedade de oficios que trabalhavam para o mesmo fim.

 Tinta ferro-gálica   |   Manuscripto "Amadis de Gaula"


Tinta ferro-gálica
Existiam várias receitas para fazer tinta para escrita na Idade Média, com uma larga variedade de ingredientes e processos. A tinta ferro-gálica é um dos dois tipos mais comuns de tinta usada na época, e a mais usada a partir do século XII. Este nome deriva directamente dos principais ingredientes usados para a sua feitura: o sulfato de ferro (II) e o ácido tânico que vem da noz-de-galha. A tinta de cor negra resulta da reacção química destes dois ingredientes numa base aquosa, aos quais se junta a goma arábica para espessar a tinta.

As nozes de galha (ou bugalhos) dos carvalhos usadas para fazer a tinta resultam da resposta da árvore ao ataque de um organismo invasor, neste caso pela postura de ovos de uma vespa na árvore. A larva da vespa desenvolve-se e quando está totalmente formada faz um pequeno furo no bugalho por onde escapa. Para trás deixa o seu "casulo" vegetal cheio de ácido tânico (resultado da sua formação).
A goma arábica é uma resina natural extraída das acácias, é solúvel em água e tem uma cor dourada.
O sulfato de ferro (II) era conhecido por vários nomes, como vitriolo, copperas ou caparrosa. Actualmente o termo "copperas" distingue-se entre "green" (verde) copperas para o sulfato de ferro, e "blue" (azul) copperas para o sulfato de cobre.

Uma receita para tinta ferro-gálica:
Toma canada e meia de água de chuva e deita-lhe dentro um arratel de galha em bocados, e faz ferver isto a fogo lento até que se reduza a metade. Lança-lhe então duas onças de goma arábica pulverizada que terás primeiro dissolvido em vinagre em quantidade suficiente. Junta-lhe depois disto oito onças de caparrosa ou vitriolo romano, deixa-a ferver mais um quarto de hora e depois de esfriar retira por inclinação e guarda-a. (Segredos Necessários para os Officios, etc, 1802)

Outra receita: Toma uma onça de galha batida, três ou quatro onças de goma arábica, junta-as num recipiente ao fogo com água de chuva, e quando a goma estiver quase evaporada despeja-a através de um pano e junta-lhe metade de uma taça de vitriolo em pó. (A Booke of secrets, 1596).

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Manuscripto "Amadia de Gaula"

Na mesa está um projecto mais ambicioso - o manuscripto do romance de cavalaria medieval ibérico "Amadis de Gaula". A origem deste romance é incerta, pois existe a teoria que defende ter sido escrito em Portugal, pela mão de Vasco de Lobeira ou João de Lobeira, enquanto que a única edição mais antiga actualmente conhecida é do castelhano Garci Rodríguez de Montalvo (1508) que refere que compilou e corrigiu os livros.
Esta versão está a ser escrita á pena sobre papel, em gótica cursiva, com algumas iluminuras que ilustram momentos chave da história (pintadas com pigmentos naturais), baseada em manuscriptos do inicio do século XV (1400-1415).

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